São Luís nasceu no castelo de Poissy, a 30 quilômetros de Paris, a 25
de Abril de 1214 ou 1215, dia de procissões solenes do dia de São Marcos. Na
mesma época Filipe Augusto venceu a célebre batalha de Bouvines, contra uma
aliança do Sacro-Imperador Otão IV da Germânia, João I da Inglaterra e nobres
da Flandres.
Tradicionalmente, depois de Filipe
I de França, os reis capetianos batizavam os seus primogênitos com o prenome do
avô. Luís IX foi o quinto filho de Luís VIII de França e Branca de Castela,
sendo o seu irmão Filipe o herdeiro da coroa até à morte deste em 1218.
A sua infância terá sido
influenciada pela figura do seu pai que, unindo o zelo pela religião à bravura
marcial que lhe valeu o cognome de o Leão, subjugou os cátaros do sul da
França. Particularmente zelosos da sua educação, os pais de Luís IX deram-lhe
bons preceptores: Mateus II de Montmorency, Guilherme des Barres, conde de Rochefort,
e Clemente de Metz, marechal da França, inspiraram-lhe os sentimentos de um rei
cristianíssimo e filho da Igreja.
Da mesma forma, mais tarde
Luís interessar-se-ia pela educação, particularmente a religiosa, dos seus
filhos. Ensinar-lhes-ia orações, a necessidade de assistir à missa e de fazer penitência.
Conta-se também, por exemplo, que às sextas-feiras não permitia que usassem
qualquer ornamento na cabeça, por ter sido o dia da coroação de espinhos de Jesus
Cristo.
O reinado de Luís foi um
período de paz e prosperidade para a França, mas também de excepcionais zelos
religioso e intolerância, com a intenção de conduzir o povo francês à salvação
da alma. São Luís não negligenciava o cuidado dos pobres, proibiu o jogo e a prostituição
e punia a blasfêmia. As punições estipuladas eram tão rigorosas que o papa
Clemente IV julgou ser necessário atenuá-las.
Outro dos traços em que a
religiosidade deste monarca se manifestou foi na aquisição da coroa de espinhos
e de um fragmento da cruz da crucificação de Jesus Cristo, em 1239-1241, a Balduíno
II, imperador de Constantinopla, por 135.000 libras. Para estas relíquias
mandou edificar a capela gótica de Sainte-Chapelle no coração de Paris, que
curiosamente só custou 60.000 libras para construir. Sob este reinado foram
também construídas as catedrais de Amiens, Rouen, Beauvais, Auxerre e Saint-Germain-en-Laye.
O monarca francês era zeloso
da sua missão de "lugar-tenente de Deus na Terra", da qual
fora investido na sua coroação em Reims. De forma a cumprir este dever
organizaria duas cruzadas e, apesar de ambas terem fracassado, contribuíram
para o seu prestígio. Os seus contemporâneos não teriam compreendido se um rei
tão poderoso e piedoso não fosse libertar a Terra Santa.
Para financiar a sua primeira
cruzada, perseguiria a comunidade judaica. No século XIII era generalizada a
aversão pelos judeus por serem considerados culpados pela morte de Jesus pelos cristãos.
Tal como os seus antecessores, São Luís tomou medidas discriminatórias e
persecutórias contra esta minoria, também com a intenção de convertê-la ao cristianismo.
Em 1244 Luís IX caiu
gravemente enfermo de disenteria, a ponto de alguns terem como certa sua morte.
Foram organizadas vigílias, procissões e outros atos religiosos pela sua
convalescença, e o próprio monarca fez então um voto: caso sobrevivesse,
partiria em cruzada para libertar o Santo Sepulcro. A organização da cruzada
durou quatro anos.
Devido aos ataques continuados
aos estados cruzados do Levante, São Luís decidiu lançar uma Oitava Cruzada,
para a qual se apresentaram os seus filhos e Eduardo I da Inglaterra, além de
numerosos príncipes e senhores. Partiram em direção a Túnis a 4 de Julho de 1270.
Mais uma vez no mar, outra grande tempestade dispersou as embarcações e impediu
muitas outras de partir.
São Luís esperava converter o sultão
de Túnis ao cristianismo para, aliados, atacarem o sultão do Egito. No entanto,
depois da rápida conquista de Cartago pelos cruzados, este não permitiu sequer
o desembarque da armada européia. Iniciou-se um confronto, com os franceses
assediando vários pontos nevrálgicos dos inimigos e a própria capital. Como
esta resistisse, decidiram dominá-la cortando os víveres.
Mas as doenças da cidade
atingiram também o exército francês. Luís IX viu morrer seu filho João Tristão,
nascido durante o seu cativeiro no Egito, e pouco depois morreria ele mesmo, a 25
de Agosto de 1270. O corpo de Luís IX foi colocado sobre um leito de cinzas, em
sinal de humildade, e os braços em cruz, à imagem de Jesus Cristo.
O cadáver do rei foi levado
para França pelo seu filho e sucessor Filipe, com exceção das entranhas: algumas
destas foram enterradas na atual Tunísia, onde ainda é possível hoje em dia
visitar um túmulo de São Luís; outras foram destinadas à abadia de Monreale, na
Sicília, a pedido do seu irmão Carlos I da Sicília.
O resto do seu corpo, depois
de uma estadia na basílica de São Domingos em Bolonha e de uma paragem em Lião,
foi transladado para a necrópole real da abadia de Saint-Denis. O seu túmulo na
França era um magnífico monumento de bronze dourado concebido no final do século
XIV. Foi fundido durante as guerras francesas de religião, quando o corpo do rei
santo desapareceu. Só foi recuperado um dedo, mantido atualmente em
Saint-Denis.
As relíquias conservadas na
Sicília foram ainda transportadas para a Tunísia para a consagração da catedral
São Luís de Cartago no final do século XIX e, por fim, quando da independência
deste país, devolvidas à França, onde foram depositadas na Sainte-Chapelle.
O culto deste santo foi
juridicamente examinado e aprovado pelo papa Bonifácio VIII, que o canonizou em
1297 com o nome de São Luís da França.
São Luís foi frequentemente considerado o modelo do monarca cristão ideal.
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